sábado, 20 de abril de 2013

Eu e os Cemitérios



Eu e os cemitérios temos uma relação especial. Gosto de os visitar, não porque pertenço a um culto satânico ou gosto de sentir as apófises ósseas debaixo dos pés, mas sim porque sinto uma curiosidade quase macabra sobre as histórias que ele encerra. Quem eram aquelas pessoas; quem as amava; será que alguém ainda as visita; o que gostavam de fazer; será que preferiam duas ou só uma colher de açúcar no café; será que bebiam café; dou comigo a pensar nisto, enquanto caminho pelos corredores estreitos. 

Já tive a sorte de poder ver vários tipos de cemitérios: o de Barcelona assemelha-se a um muro gigantesco de galerias escavadas, onde estão depositados os restos de centenas de pessoas; o de Rabat, em Marrocos, é uma salgalhada de jazidos, cada um com o seu símbolo, organizados de uma forma completamente desorganizada; em Portugal parece haver uma competição por quem tem o jazido mais vistoso. Já me ocorreu que o aspecto de cada um destes cemitérios reflectia a essência de cada povo, pois o modo como cada um lida com a morte, reflecte-se na forma como vivem a vida. Enquanto a vida dos marroquinos me pareceu inserida num caos organizado, a nossa vida, em Portugal, baseia-se muito no aspecto e não tanto na simplicidade que notei no cemitério de Barcelona, ainda que um pouco artística.

Hoje, quando passeava a I., resolvi entrar no cemitério da minha cidade universitária, Vila Real. À primeira vista é um típico cemitério português. Os típicos mausoléus espampanantes, os mármores dos jazigos com as típicas inscrições, e as fotografias gastas estavam lá. Notei que havia um, cujo individuo que o habitava, tinha nascido em 1816. Lembro-me de ter pensado: “Uau! Mas há quanto tempo existe este sítio?”

Contornei uma Igreja de São Dinis (no interior do cemitério) e fui dar de caras com um cemitério muito pouco “português”. Era um relvado salpicado com escassas lápides, algumas delas tão antigas, que era impossível decifrar o que lá havia sido inscrito. Para além das visões, típica de filme americano, havia pássaros e borboletas por todo o lugar. Como é quem em quatro anos nunca me tinha apercebido de tão bom local para ler e estudar sossegada?!

Apesar da morbidez do local, não pude deixar de pensar, como a beleza pode ser encontrada mesmo em locais com significados tão tristes. 


1 comentário:

Sara disse...

Eu sinto o mesmo, mas não aprecio a maioria dos cemitérios portugueses em que se quer parecer mais rico que o vizinho...Preferia cemitérios tipo campa rasa como se vê em alguns países...Gostava de ir ao de Montmartre em Paris.

cumps