domingo, 8 de novembro de 2015

"Cem Anos de Solidão", Gabriel García Márquez

"Cem Anos de Solidão" é talvez um dos dez melhores livros que já li na minha vida. É uma daquelas obras que vamos devorando lentamente e que no final deixa marca. 

A história desenrola-se na cidade fictícia de Macondo, fundada pela família Buendía, e acompanha o desenrolar da vida ao longo de sete gerações diferentes. A certa altura do livro torna-se quase impossível saber quem é quem, uma vez que os Buendía chamavam sempre os filhos de Aureliano, ou de José Arcadio. 

Apesar de não se puder afirmar que existem personagens principais, uma das que tem especial destaque é a de Úrsula, mãe da primeira geração. Úrsula vive entre 115 e 122 anos e vê crescerem e morrerem filhos, filhas, netos e netas. Vê a sua casa ascender na riqueza e sucumbir à miséria, para de novo se erguer e mais uma vez cair. Esteve presente em quase todo o livro e é espantosa a clareza com que começa a ver a vida e a a crescente compreensão, ainda que não totalmente expressa, daqueles que vai criando e vendo crescer. A certa altura acaba por lhe parecer que a vida é uma sucessão de reviravoltas que levam sempre ao mesmo sitio, quase como se fosse um circulo. 

À medida que fui avançando na narrativa, fui entendendo o porquê do nome "Cem Anos de Solidão" - Apesar de inumeras personagens terem vivido naquela casa, quer estivessem rodeados de pessoas, ou mesmo sozinhos, a sua incapacidade de se compreenderem verdadeiramente, ou de expressarem aquilo que compreendiam, acabava sempre por os isolar no mundo. No final todos ficavam entregues à solidão, mesmo que não o reconhecessem. Para mim é incrível como Gabriel García Márquez conseguiu criar um conjunto de histórias e de personagens, aparentemente simples, mas que escondem uma grande complexidade, quase como se quando as escreveu já soubesse tudo o que havia para saber sobre a vida.  

   Podia continuar a elogiar este livro magnífico, dizendo que está escrito de forma brilhante, cheio de passagens de bom sentido de humor e de um realismo mágico único dos escritores latinos. No entanto, este é daqueles clássicos que tem mesmo de ser lido e interpretado por cada um de vocês, podendo ser indiferente para muitos, ou especial para muitos outros.

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